Empreendedor Social de Futuro

Por Andrea Guedes

No último dia 25, Francisco Wagner Gomes de Souza, diretor executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico Local (ADEL), parceira do Instituto Souza Cruz na implantação do Programa Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR) no Ceará, recebeu o prêmio Empreendedor Social de Futuro, concedido pelo jornal Folha de São Paulo. A cerimônia de entrega foi realizada no Museu de Arte de São Paulo.

“A conquista do prêmio representa uma vitória de aproximadamente 600 agricultores e jovens empreendedores que participam dessa tecnologia social denominada ADEL”, enfatiza Wagner, que nasceu na comunidade rural Monte Alverne, município de Apuiarés (CE).

Com 28 anos, Wagner é filho de agricultor e teve a oportunidade de ingressar na Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2004, e cursar Ciências Econômicas. Antes mesmo de se formar, fundou a ADEL juntamente com outros jovens que, assim como ele, tiveram a oportunidade de ingressar no Ensino Superior e desejavam contribuir com o desenvolvimento de suas comunidades de origem.

A ADEL é um empreendimento social, sem fins lucrativos, que tem como missão potencializar e articular saberes, vocações e oportunidades em prol do desenvolvimento econômico e social de comunidades e territórios cearenses através da formação de redes cooperativas, da produção de conhecimento e do apoio técnico contínuo a empreendimentos produtivos e sociais.

Na entrevista abaixo, Wagner fala sobre o reconhecimento do trabalho desenvolvido pela Adel, aponta as perspectivas da instituição para os próximos anos e avalia os primeiros meses de implantação do PEJR na microrregião do Médio Curu cearense.

A premiação também é um reconhecimento ao fortalecimento da juventude rural e da agricultura familiar. Na sua opinião, formadores de opinião e poderes públicos estão dedicando mais atenção para essa causa?
Atualmente, as temáticas juventude rural e agricultura familiar ganharam maior relevância nas pautas de discussões e de formulação de políticas públicas. Entretanto, a juventude rural ainda enfrenta muitos desafios, muitas vezes agravados pelo confronto diário não só com as expectativas de seus familiares, mas com a baixa qualidade das escolas rurais, o difícil acesso ao ensino superior, o trabalho precoce para garantir a subsistência, e principalmente, a falta de perspectivas mais promissoras no campo.

Wagner Gomes durante a cerimônia de entrega do prêmio (Foto: Divulgação)

Como foi a repercussão do prêmio na região?
A conquista do prêmio Empreendedor Social de Futuro representa uma vitória de, aproximadamente, 600 agricultores e jovens empreendedores que participam dessa tecnologia social denominada Agência de Desenvolvimento Econômico Local (ADEL). O resultado do prêmio tem repercutido de uma forma bastante positiva, tanto pelo público participante como pelas mídias locais, colaboradores, parceiros e financiadores da ADEL.

A ADEL é uma organização formada prioritariamente por jovens. E o cenário do Terceiro Setor brasileiro hoje é bastante competitivo. O prêmio contribuiu para que a ADEL se destacasse e para mostrar para todos que seu trabalho é sério, comprometido com resultados e com a eficiência na gestão dos recursos. Esse ganho de credibilidade e de legitimidade têm se manifestado principalmente pelo grande volume de e-mails e telefonemas de pessoas e organizações do próprio Ceará, que já consideram a ADEL uma referência na área de desenvolvimento local e desejam saber mais sobre as possibilidades de reaplicação de sua tecnologia social. Jornais locais, como o Diário do Nordeste, começaram a destacar e dar visibilidade local ao trabalho da ADEL. Mídias que são consumidas por gestores públicos, empresários e formadores de opinião.

Jovens durante a formação no PEJR no Ceará (Foto: Acervo Instituto Souza Cruz)

Como você avalia os primeiro quatro meses de implantação do PEJR no território?
O Programa Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR) tem contribuído para a sustentabilidade geracional do campo. O trabalho do PEJR, nesses quatro meses no Médio Curu, tem alcançado resultados significativos. São 33 jovens muitos dedicados e que serão referências positivas em suas comunidades e municípios. O programa na ADEL enfatiza o rejuvenescimento das associações comunitárias e dos grupos produtivos locais, ao mostrar aos jovens as reais oportunidades que existem quando se tornam empreendedores e pensam em estratégias e soluções para que possam permanecer em suas propriedades e comunidades contribuindo com sua criatividade, e com uma nova geração de conhecimentos e ferramentas que representam uma injeção de inovação e talento para o desenvolvimento local.

O PEJR é uma alternativa para o jovem permanecer no campo, reduzindo assim o êxodo rural. E a permanência da juventude no campo, devidamente estimulada e potencializada, e com acesso à educação e serviços qualificados de apoio, representará, com toda certeza, o fortalecimento e a modernização da agricultura familiar, o ganho de competitividade e de rentabilidade das atividades econômicas e a democratização das políticas e da gestão pública.

Turma do PEJR no Ceará (Foto: Acervo Instituto Souza Cruz)

Quais são as perspectivas da Adel para os próximos anos?
A ADEL é uma tecnologia social de articulação e coordenação de atores e recursos locais em prol do desenvolvimento do território. A inspiração para a criação da ADEL vem de agências de desenvolvimento local atuantes em regiões de países como Espanha, Portugal, Itália, França e Moçambique. Em que a sociedade civil, com enfoque territorial, se organizou para desenhar e planejar estratégias de fomento ao desenvolvimento em grandes e sólidas alianças entre governos, empresas e sociedade. Esperamos nos próximos anos consolidarmos como uma organização com capacidade técnica e gerencial para executar projetos de larga escala e de gestão de conhecimento no território, a partir do ganho de legitimidade e da ampliação de parcerias locais e nacionais. E formar recursos humanos na cultura da organização, que garantam qualidade e padrão técnico no desenvolvimento de projetos internos. Nos próximos anos, pretendemos também sistematizar a nossa tecnologia social, para que possamos produzir e disseminar práticas e saberes fundamentais para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar em todo o Brasil.

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