Empreendedorismo e Protagonismo nas Escolas geram impactos no meio rural

Formação do PJER, 2019

Há dois anos, a Adel realiza o Projeto Jovens Empreendedores e Protagonistas Rurais nas Escolas, uma versão do Programa Jovem Empreendedor Rural (PJER), com jovens que cursam o Ensino Médio. Por meio da educação contextualizada, são realizadas oficinas de convivência sustentável, desenvolvimento local, empreendedorismo rural, protagonismo social, direitos humanos e convivência com o semiárido. O objetivo é apresentar aos estudantes e professores conceitos, ferramentas e abordagens, a serem incorporadas nos conteúdos formais e no dia a dia escolar.

Gessica Matos da Cruz, 20, filha dos agricultores Maria Matos e Antônio Adalberto, a mais velha de duas irmãs, está entre as jovens que acessaram as oficinas desse projeto em 2018. Nascida na comunidade Logradouro, distante 15 Km do município de Tejuçuoca, no Ceará, Géssica celebra hoje com sua família os ganhos de ter participado do projeto.

“Participei de duas oficinas na Escola (Juventude e Empreendedorismo Rural; Sustentabilidade e Conservação da Caatinga) e me encantei com a possibilidade de ampliar meus conhecimentos como empreendedora. Após um período, fiquei sabendo da formação do PJER para jovens que já concluíram o Ensino Médio, aí decidi me inscrever com o objetivo de adquirir conhecimentos para melhorar meu empreendimento e ter contato com outras experiências da região”, relata a jovem.

Formação do PJER, 2019

O empreendedorismo e protagonismo de Géssica começou muito cedo. Aos 16 anos, passou a digitar trabalhos, fazer impressões gráficas e layouts para os moradores da comunidade, usando um computador de mesa e uma impressora convencional, que era do seu tio. “Foi algo involuntário, meu tio foi embora (para cursar o Ensino Superior em Redenção/CE) e tive a oportunidade de usar seus materiais e comecei dali a empreender. Por não me sentir totalmente satisfeita com o que já fazia, comecei a pesquisar sobre personalizados de festas, aniversários e eventos escolares, assim comecei a investir na criação desses produtos”, lembra.

Com o apoio da sua família, ela criou o empreendimento ArtyFamilly e passou a conciliar os estudos com o trabalho. Bastante organizada, Géssica elaborou um cronograma de atividades para gerir seu tempo e não cair o rendimento escolar. Nesse período, ela ainda arranjou outra atividade remunerada para manter seu negócio que estava no comecinho, e, ter uma outra renda extra.

“Para não deixar faltar dedicação no trabalho e estudos, programei horários para ambos. Como sabemos, no começo tudo é difícil, então não tinha capital suficiente para comprar subsídios e manter meu negócio, foi aí que me candidatei a dois projetos escolares no Ensino Médio, que eram programas governamentais de estágios. Na época, me ajudaram a ter um recurso inicial de investimento para ampliar meus serviços”.

Géssica realizando atividades do empreendimento com sua irmã Flávia e sua mãe Maria

Após concluir o Ensino Médio, em 2019, Géssica foi selecionada para participar da formação do PJER. Logo iniciou o Curso Empreendedorismo e Protagonismo Jovem. “Lá pude conhecer pessoas que trabalhavam com projetos semelhantes aos meus, adquiri novos conhecimentos. Nas oficinas pude praticar muito o método de implementação do meu projeto e quando retornava para casa colocava em prática tudo que lá havia estudado. Depois do curso solicitei acesso ao crédito da Adel para investir ainda mais no meu empreendimento”.

Reinventar-se na pandemia

A pandemia modificou os planos de Géssica para seu empreendimento e ela conta como criou soluções criativas nesse período. “Eu tinha ideias para investir todo o recurso acessado no Fundo Veredas no meu empreendimento, mas veio a pandemia e decidi mudar os planos. Só comprei o que era mais urgente no momento e deixei o restante do recurso como segurança, usando só uma parte para cobrir gastos fixos e compra de material extra em demandas grandes. Além do restante do recurso ficar na conta e render, eu tive um tempo de reinventar meu projeto e decidir no que investir de fato naquele momento, se era no material, maquinário ou estudos. Apliquei as estratégias do plano B que pensei na época da formação”.

Géssica conta também que quase todo material usado nos seus trabalhos é reutilizado. As sobras dos artesanatos, plásticos, EVA e outros são aproveitados para evitar poluição e desperdício. “A gente não descarta quase nada, o material que usamos utilizamos praticamente quase tudo, as sobras se tornam enchimentos para bonecas e lembranças 3D e na construção de outras peças, por exemplo.”

Peças decorativas feitas de EVA e material reciclado confeccionado por Géssica

A jovem que já trabalhava com artesanato personalizado, impressos, caixinhas, mimos para eventos e convites, teve que se adaptar, pois não tinham mais festas e celebrações devido a quarentena, e, consequentemente, as demandas desapareceram. Géssica decidiu focar no artesanato e passou a reutilizar material descartado na própria comunidade. Quando precisa, a jovem sai em busca de garrafas pet, bandeja de ovos, papelão, latas de leite, caixas de compras, e outros materiais para reutilizar.

Os artesanatos são vendidos para familiares, moradores locais e professores que utilizam em suas aulas remotas. “Me vi em meio a pandemia da Covid-19, mas não deixei desanimar, montei um plano B, voltei a praticar o artesanato em EVA que me remetia ao bordado que eu e minha avó fazíamos, e outros meios que me remetia a costura. Neste ano, em meados de julho/agosto montei parceria com algumas empreendedoras locais, com artesanato, topos de bolos personalizados, assim movimentando a renda da nossa comunidade”, relata.
Após a parada total dos produtos de festas personalizados por conta da pandemia, a jovem aos poucos retoma essa atividade seguindo todas as medidas de segurança para prevenção da COVID-19.

“Hoje estou com meu negócio funcionando graças as estratégias que aprendi antes e durante a formação, no qual apliquei nesse período de pandemia. A expectativa é ampliar as atividades, ter mais renda para a família e montar um novo espaço para receber os clientes após esse período. O meu negócio começou apenas com a vontade de ajudar a minha família com as despesas da casa, mas se tornou não somente isso, me ajudou a construir meu lar, minha dignidade e meu orgulho”, comemora Géssica.

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