Insegurança alimentar atinge principalmente mulheres no Brasil

Segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II Vigisan), a fome tem gênero e cor. Os dados da pesquisa apontam que a cada 10 lares governados por mulheres ou por pessoas negras de ambos os gêneros, 6 têm algum nível de insegurança alimentar. Nas famílias lideradas por homens, independentemente de raça, o índice é de 53,6%; já nos lares dirigidos por pessoas brancas, o percentual é de 46,8%.

O levantamento foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), nos 26 estados e no Distrito Federal, tanto em áreas urbanas quanto rurais. Foram entrevistados mais de 35 mil pessoas em quase 13 mil domicílios, entre novembro de 2021 e abril de 2022. Os resultados vão de encontro também com o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), onde 31,9% da população feminina do mundo vive com algum tipo de insegurança alimentar.

Segundo a FAO, a América Latina e o Caribe são as regiões que apresentam maior discrepância entre homens e mulheres quando o assunto é insegurança alimentar. Nesses locais, 45% da população feminina vive nessas condições, ante 33% da população masculina.

Gênero e agricultura familiar

Os dados refletem o racismo estrutural e o sexismo no Brasil e a urgência dos governos investirem em políticas públicas que combatam o problema a curto e a longo prazo.

Tendo em vista essa realidade, iniciamos esse ano o Projeto Segurança Alimentar e Nutricional realizado pela Energimp e executado por nós na comunidade Morgado, em Acaraú, no interior do Ceará. A iniciativa visa reduzir a vulnerabilidade das famílias da comunidade à fome, através da inclusão socioprodutiva, principalmente de mulheres locais.

Em julho, realizamos uma oficina sobre Gênero e Comercialização na Agricultura Familiar, na Associação Comunitária de Morgado. 17 (dezessete) mulheres beneficiárias do projeto participaram da atividade. A ação promoveu uma reflexão sobre as políticas públicas e outras estratégias de produção e comercialização na agricultura familiar

A oficina destacou também a importância da mulher na economia familiar e na garantia da segurança alimentar e nutricional; acesso às políticas públicas de produção e comercialização; planejamento e autonomia.

Como atividade prática, as participantes simularam a construção de um negócio, uma forma de incentivá-las a pensarem nos desafios, mas também se enxergarem como empreendedoras. As mulheres locais estão planejando comercializar os produtos oriundos de suas hortas e aviários.

“O encontro foi importante para destacar o forte protagonismo das mulheres para o desenvolvimento de propostas agroecológicas e para o fortalecimento das ações organizativas”, destaca Régma Queiroz, nossa Gerente de Novos Negócios.

Esperamos implantar 21 Quintais Produtivos Agroecológicos, 13 com foco na produção de hortaliças e 8 na produção de galinha caipira, por meio da construção de aviários. O projeto também inclui assessorias especializadas com foco na produção de alimentos com qualidade para o autoconsumo e a comercialização de excedentes, de modo direto, em mercados locais.

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