O que queremos para 2024

Erivanilson Lino, agricultor de Lajes/RN

O ano novo chegou e junto com ele temos alguns desafios vividos em 2023, o ano mais quente dos últimos 10 mil anos, segundo especialistas. O avanço da desertificação e os efeitos das mudanças climáticas, principalmente no bioma Caatinga afeta o bem-estar de milhões de famílias no Semiárido do Nordeste brasileiro. Diante deste contexto, nos propomos dedicar em 2024 mais energia e atenção para encontrar soluções que corroborem com a sustentabilidade do planeta.

Alguns dos nossos principais propósitos, são:

1 – Valorizar ainda mais o compartilhamento de aprendizagens e intercâmbios de experiências e saberes, as cadeias de valor local por meio da organização de coletivos, da partilha de conhecimentos, é umas das nossas premissas de atuação nos territórios rurais.

Desde a nossa fundação, buscamos a partir dos nossos projetos valorizar os modos de vida e saberes intrínsecos à sociobiodiversidade local, a partir do compartilhamento de riscos, colaboração e cooperação entre os atores locais. Estamos constantemente promovendo intercâmbios entre grupos.

No último trimestre de 2023, realizamos um intercâmbio entre vinte e sete mulheres rurais de diferentes comunidades do município de Lajes, e o grupo de mulheres do Assentamento Maurício de Oliveira, em Assú, ambos no Rio Grande do Norte. As mulheres de Lajes visitaram a horta coletiva gerida pelas mulheres no Assentamento Maurício de Oliveira e conheceram o viveiro de mudas nativas.

O trabalho dessas mulheres rurais e de tantas outras do Semiárido Nordestino contribui com a preservação da terra e de seus frutos. As sementes crioulas podem garantir a diversidade alimentar e um planeta sustentável.

Agricultoras de Lajes em intercâmbio com grupo de mulheres do Assentamento Maurício de Oliveira, Assú/RN.

2 – Seguir investindo na agricultura familiar para contribuir no combate à pobreza no Brasil.

A agricultura familiar é condição fundamental para garantir a sustentabilidade ambiental. De acordo com o IBGE, a atividade representa 77% da produção agrícola do Brasil. A diversidade de alimentos saudáveis e seguros cultivados, a preservação dos recursos naturais e da biodiversidade, e a melhoria das condições de vida da população rural por meio geração de renda tem contribuído para o desenvolvimento local.

Promovemos a agricultura familiar junto com jovens, agricultoras e agricultores por meio de assessoria técnica, acesso a conhecimentos, tecnologias e apoio à programas de proteção social capazes de impulsionar a demanda das comunidades.

Grupo de mulheres de Assú/RN em horta coletiva

3 – Segurança Hídrica para garantir acesso a água para consumo humano e viabilizar a produção rural.

Essa temática se apresenta como um enorme desafio frente a crise climática no mundo inteiro. Garantir o acesso aos recursos hídricos é condição para reduzir a vulnerabilidade, fortalecer a resiliência da população rural e promover o desenvolvimento socioeconômico desses territórios.

Vale destacar que o recurso hídrico é um dos principais ativos na produção de alimentos, logo pensar em agricultura e desenvolvimento sustentável requer um equilíbrio entre a oferta e a demanda de água no meio rural. Atuamos promovendo o acesso às tecnologias sociais de acesso à água e compartilhando conhecimento quanto a sua gestão para compatibilizar o uso, o controle e a proteção desse recurso.

Agricultor beneficiado com cisterna de placa

4 – Conservar e recuperar a Caatinga e a sua biodiversidade, bioma único que possui uma rica fauna e flora. Sem falar a cultura e potencial criativo da sua gente.

Dentre os biomas Semiáridos do Planeta, a Caatinga é considerada o mais biodiverso. A falta de informações sobre esse ecossistema é um dos principais fatores para a pouca proteção. De acordo com dados do IBGE é também considerada a área mais povoada -30,3 milhões de pessoas vivendo neste espaço. Isso equivalia a 14,6% da população brasileira.

Essa densidade populacional acaba por exercer grande pressão sob as áreas remanescentes da Caatinga, sobretudo as atividades extensivas de agricultura irrigada, pastagem, exploração de lenha e produção de carvão vegetal.

Nossas ações de educação ambiental propõem sensibilizar a população quanto as ameaças endógenas que o bioma sofre, além da valorização e uso sustentável das riquezas presentes no bioma.

Sertão de Jacobinas/BA

5 – Promover o protagonismo das mulheres rurais que são as mais afetadas com o aumento da pobreza e sofrem restrições no acesso à água, saúde e educação.

Questões relativas ao acesso e uso da terra e às políticas de fomento às atividades produtivas das mulheres rurais ganharam mais peso no debate sobre alternativas de desenvolvimento. De acordo com a FAO, as mulheres produzem cerca de metade dos alimentos no mundo e correspondem a 43% da mão de obra agrícola.

Na América Latina e Caribe, cerca de 60 milhões de mulheres atuam no campo, sendo responsáveis pela produção de 60 a 80% dos alimentos consumidos na região. Cerca de 90% do que mulheres lucram no campo é reinvestido em educação e no bem-estar da família, e somente 20% delas são proprietárias das terras onde trabalham.

Reconhecer e fomentar o protagonismo dessas mulheres representa uma questão de justiça social e incide diretamente no aumento da produção agrícola e garantia da segurança alimentar do planeta.

Nossos projetos de inclusão produtiva de mulheres propõem formações para que elas compreendam a relevância da participação em espaços de tomada de decisão, na comunidade e território, além de colaborar com o desenvolvimento rural sustentável.

Irene Barbosa, agricultora e artesã da comunidade Pelo Sinal II, Fernando Pedroza/RN

6 – Acesso ao conhecimento e às tecnologias para ampliar as capacidades dos jovens, agricultoras e agricultores familiares.

Com acesso ao conhecimento os atores locais têm maior oportunidade de elaborar soluções para os problemas presentes em seu entorno, que os atingem diretamente ou que abrangem as pessoas que os cercam.

Nossos projetos de formação, sejam voltados aos jovens ou mesmo aos agricultores e agricultoras, miram nesse olhar atento e sensível para que sejam capazes de acompanhar as mudanças e criar propostas que respondam as diferentes crises nesses contextos.

Para alcançar esses propósitos, compreendemos a importante relevância em construir novas parcerias e projetos para seguirmos promovendo um desenvolvimento endógeno desses territórios.

Transformar o presente é condição para construir um futuro mais justo e sustentável!

Agricultoras de Touros/RN em formação

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